Nos
últimos oito anos, milhares de famílias do Semiárido tiveram acesso a
água através da mobilização social e de políticas públicas, acessaram
tecnologias sociais de captação de água da chuva para a produção de
alimentos, muitas implementadas pela Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA) como resultado da mobilização social. Com a possibilidade de
guardar a água para continuar produzindo na época da escassez das
chuvas, agricultores e agricultoras aumentaram a capacidade de garantir
sua segurança alimentar. E, mesmo nos últimos cinco anos de forte seca
na região, muitas conseguiram manter uma produção de alimentos para
consumo e comercializar o excedente. “Mesmo nesse período de seca o
número de feiras em muitos municípios da região aumentaram. Essa
informação é relatada por diversas organizações da ASA que atuam nos
estados”, explica Antonio Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e
Duas Águas (P1+2) e do Programa Sementes do Semiárido, ambos da ASA.
Hoje, a agricultura familiar é responsável por cerca de 70% dos
alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e brasileiras e cerca de 50%
dos estabelecimentos da agricultura familiar estão no Semiárido, o que
confere a região um grande potencial de produção de alimentos. E a ASA,
em sua ação, acredita que a região pode se tornar a maior produtora de
alimentos saudáveis do país nos próximos quatro anos. “Até o ano que
vem, cerca de 150 mil famílias terão acesso a tecnologias de água para a
produção de alimentos em toda a região, contabilizando a ação da ASA e
dos Estados. Isso significa que cerca de 10% da população semiárida
poderá produzir sua própria alimentação”, explica o coordenador do
programa Antonio Barbosa. A perspectiva apontada pela ASA se deve pelo acesso a água, mas também por outros avanços enxergados pela Articulação na região, como: a preservação do patrimônio genético pelas comunidades, que guardam sementes animais e vegetais; a execução de chamadas públicas de assistência técnica e extensão rural (Ater) realizadas pelo governo com foco agroecológico; e a possibilidade de saída de um período de forte seca com a volta das chuvas. “O Semiárido como maior região produtora de alimentos saudáveis é uma perspectiva de produção de alimentos para consumo das famílias. Claro que pode existir um excedente e isso ser comercializado, mas o nosso incentivo enquanto ASA é na garantia de melhor qualidade dos alimentos e da segurança e soberania alimentar das famílias agricultoras. Esse é o debate que o Semiárido levará para a Conferência Nacional de Segurança Alimentar ”, explica Barbosa. Na conferência a ASA pautará a perspectiva do Semiárido como maior produtor de alimentos saudáveis do Brasil, a partir do incentivo à produção agroecológica e sua contribuição e esforço na implementação de seus programas, principalmente da ação do P1+2 e o Programa Sementes do Semiárido. Outro tema para o qual a Conferência vai se voltar é o consumo, cada vez maior, de alimentos ultraprocessados. O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde, recomenda que a base da alimentação sejam os alimentos in natura ou minimamente processados. Outra iniciativa do Ministério de Saúde é o livro sobre alimentos regionais brasileiros que discute a possibilidade de resgatar e incentivar o consumo de alimentos regionais e sua relação simbólico-cultural. O objetivo é valorizar os itens alimentares com características regionais, apresentando-os como instrumentos de fomento e proteção do patrimônio material e imaterial. “Tivemos muitos avanços no campo das políticas públicas de segurança alimentar, mas também houveram alguns refluxos. A Conferência é importante para reafirmarmos que não pode haver recuo no avanço da garantia da segurança alimentar”, afirma o conselheiro. Cerca de duas mil pessoas participarão do evento, oriundas de todos os estados do Brasil, e dois terços da delegação será formada por representantes da sociedade civil. O processo preparatório da Conferência deve envolver de 70 a 100 mil pessoas até novembro. “A Conferência vai ser uma síntese desse processo e nós queremos dialogar com toda a sociedade, afirmando a diversidade da cultura alimentar brasileira que se contrapõe a monocultura alimentar imposta pelo agronegócio e pelas grandes redes de supermercados”, completa o conselheiro. |
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Catarina de Angola e Monyse Ravenna – Asacom |
quinta-feira, 25 de junho de 2015
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Produção da agricultura familiar potencializa Semiárido como maior produtor de alimentos saudáveis do Brasil
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